Ele diz ter mais de 800 ideias armazenadas, prontas para serem garimpadas, desenvolvidas e patenteadas.
Hoje vamos entrevistar o inventor e empreendedor Paulo Gannam, que vai nos contar sobre seu primeiro Eureca e destacar a importância do trabalho de inventores independentes para fomentar a economia, a indústria e o comércio.
O que faz um inventor?
Aos olhos menos atentos, “não faz nada”, tratando-se de um ser curioso, sem responsabilidades, e dado a esquisitices. Diante de olhos mais objetivos, é “candidato à canonização”, dadas todas as dificuldades que se observam desde a concepção da ideia até efetivamente o produto ser – se é que vai ser – colocado nas prateleiras de grandes varejistas e tornar-se um tremendo sucesso.
A figura do inventor está prevista na legislação nacional?
Está. Perante a lei é uma pessoa física, não ocupante de cargo efetivo, cargo militar ou emprego público, que seja solicitante de um pedido de patente (patente de invenção ou modelo de utilidade) no Instituto Nacional da Propriedade Industrial – INPI.
Então é aquela pessoa que não está vinculada a universidades, centros de pesquisa, ou empresas privadas, mas que igualmente cria e desenvolve produtos e serviços, inovadores ou não. Digo ainda que ser inventor independente é muito mais vocação do que profissão. É olhar constantemente para o mundo, enxergar seus problemas e procurar ativamente soluções para resolvê-los – sozinho ou com a ajuda de outras pessoas que tenham mais conhecimento técnico do que você.
Existe algum tipo de personalidade que está mais presente em inventores?
Não é incomum terem temperamento irritadiço, insatisfeito com as coisas do jeito que estão e, pela via da imaginação, articularem produtos, amadurecerem ideias até encontrar o melhor caminho entre vários para atingir o objetivo de melhorar as coisas.
E necessário resiliência até encontrar um investidor para sua invenção?
Eu diria que é necessário resiliência sim, mas é necessário algo que ainda parece não estar previsto no nosso dicionário, que vai além da resiliência, um tipo de abnegação extremada. Ao procurar por parceiros, é estar preparado e se acostumar com respostas do tipo: “não temos capital”, “já temos nossos próprios projetos”, a “crise está feia”, “não trabalhamos com essa linha de produtos”, “não trabalhamos com licenciamento”, “não queremos ter de buscar clientes, fornecedores, para seu invento”, “trabalhamos só sob encomenda”, “você não é microempreendedor individual nem outro tipo de empresa, não tem equipe, não tem qualificações, então não serve”…
Onde o inventor trabalha?
Em termos de “eureca”, ela pode acontecer em qualquer lugar e hora, desde no banheiro até durante uma acalorada discussão. Há dias em que eu tenho uma sensação indefinível, mas palpitante, de que vou ter alguma ideia, e de que devo ficar atendo ao que estou observando à volta, pois as chances de captar algo diferente, um produto que vá resolver uma situação ainda sem solução é grande.
Tomar um cafezinho e pôr o pé na estrada também ajuda muito. Estar em locais com imagens em movimento te coloca numa frequência inventiva na qual você passa a observar o comportamento das pessoas e o funcionamento dos objetos de um modo sem-igual.
Mas, de modo geral, cada inventor vai trabalhar onde bem entenda, dentro de suas possibilidades. Tudo vai depender dos recursos de que dispõe e das competências que ele traz em sua bagagem cultural e técnica. Eu trabalho em casa, mas nem todos os meus inventos sou eu que desenvolvo sozinho, pois algumas ideias demandam áreas do conhecimento que somente um engenheiro especializado ou programador pode executar.
Existem locais que empreguem inventores ou essa profissão é voltada para o empreendedorismo?
Há sim empresas que empregam inventores, mas dentro das empresas normalmente eles recebem outros nomes. O inventor pode ser um “creative designer”, ou mesmo algum engenheiro de inovação do departamento de pesquisa e desenvolvimento. O pessoal do marketing da empresa então nem se fala, sempre inventando. No fundo, todos são, de alguma forma e em algum momento, inventores. Eles estão tendo ideias a todo o momento para criar, melhorar e desenvolver novos produtos e novos negócios.
Até hoje, qual foi a sua invenção de maior sucesso?
Por ora, me encontro em negociação com empresas. Não é fácil transformar uma ideia em produto e, mais ainda, um produto em sucesso de vendas. Basta a gente lembrar do filme “Joy: O Nome do Sucesso”, lançado em 2015.
Batalhões de projetistas, designers, publicitários de grandes empresas buscam esse objetivo, com resultado modesto na grande maioria dos casos. Imagine para nós então, pequenos inventores, com ideias aparentemente boas.
E quais são suas invenções com patente solicitada?
Tenho algumas inovações com patente depositada, com protótipo (provas de conceito para demonstração) e procuro empresas investidoras interessadas em realizar uma validação e, se apontada efetiva viabilidade, lançar estes produtos no mercado mediante contrato de licenciamento ou assemelhado.
Uma das invenções é um Sistema de Cooperação no Trânsito
É um aparelhinho eletrônico de comunicação instantânea que alerta, com frases curtas e objetivas, qualquer problema/situação identificável em um veículo ou nas estradas.
A comunicação é feita pelos usuários de outro veículo que também disponha do aparelho e não depende sempre de internet, cujo sinal é ruim em certos locais. Para quem não tiver o Comunicador instalado, concluímos um aplicativo que já pode interagir e se comunicar com o Comunicador, aumentando chances de escalabilidade.
Este produto será interessante, entre outras coisas, como forma de oferecer informações valiosas ao governo sobre problemas identificados nas rodovias. Por exemplo, conseguindo-se rastrear os locais nos quais a troca da mensagem “buraco na pista” for emitida, o governo saberia onde exatamente precisaria resolver o problema, diminuindo custos e aumentando a eficiência de seus serviços.
Alguns exemplos de mensagens: luz de freio queimada, pneu murcho, luz de ré queimada, emergência, pessoa doente no carro, acidente/animal/deslizamento à frente, incêndios, chuva forte, desculpe, obrigado, etc.
Também permitirá a comunicação entre órgãos de Governo e motoristas, campanhas de educação no trânsito, desestímulo ao uso de smartphones durante a condução, possibilitando uma segura integração da comunicação por meio de atalhos muito simples. Custo de fabricação em torno de 8 dólares.
Outra invenção é de um jogo de sensores que auxilia o estacionamento e o encostamento do veículo, protegendo rodas, calotas e pneus junto ao meio-fio.
Este produto é uma “mão na roda”. Um sensor que avisa o momento em que o condutor estiver próximo de encostar o pneu ou roda na calçada, em qualquer tipo de movimento – com ou sem uso de marcha-ré. Muito mais simples e barato que projetos complexos e caros com funções semiautônomas e parafernálias de câmeras. E atende a uma necessidade de modo mais completo, se comparado com retrovisores tilt down (aqueles que abaixam na hora que você está dando ré para estacionar). É um salvador de rodas e um park assist, só que muito mais barato, por ser dotado de sensores (em larga escala, custo de fabricação ficaria em torno 9 dólares por ponto).
Vídeo de uma prova de conceito, assista clicando AQUI.
E, para finalizar, o que te dá mais satisfação em fazer?
O hábito de estar sempre envolvido com a criação de algo novo e o fato de, ao longo da jornada, ter podido conhecer pessoas boas e confiáveis que puderam me ajudar a desenvolver alguns protótipos e a proteger intelectualmente minhas criações no INPI.
É muito bom depois de um trabalho de meses – até anos –, você olhar para uma ideia que você teve lá atrás materializada num produto apresentável ao público e às empresas.
Outra grande fonte de satisfação é a possibilidade de você ver sua invenção sendo posta nas prateleiras e finalmente te dando algum retorno financeiro.
Além de contribuir de alguma forma com a sociedade e, quem sabe, poder ser lembrado e mencionado nos anais da História.
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Imagem: FreePik