Temos poucas fontes onde buscar elementos para recompor a formação histórica da vida da cidade. Uma delas é o Histórico de Morungaba, de autoria da falecida professora Maria Diloca Ferraz Sangiorgi, datado de 1962, que não chegou a ser publicado conforme o desejo da autora mas cujo original foi preservado. Nesse escrito podemos ler: ” O Senhor Pereira Cardoso teve a feliz idéia de fundar povoação aqui, com o fim de transformar o Bairro dos Mansos, que só contava com casas rústicas e distantes uma das outras. Escolheu para iniciar a povoação, um lugar plano. No dia 2º de junho de 1888, traçou a primeira rua, perto da fazenda do senhor Chico Bueno. Construiu muitas casas de tijolos, modernas naquele tempo mas tão sólidas que até hoje existem várias e que passaram por reformas, sem perder a primitiva feição exterior”. Talvez seja a afirmação retirada àquele trabalho, a única remetência à data de fundação da cidade. Não podemos dispor, entretanto, de nenhuma confirmação documental que torne indiscutível essa informação.
A convite da Prefeitura Municipal, o Doutor José Bueno de Aguiar, ligado a Morungaba por inúmeros laços, inclusive pelo seu declarado amor à terra que considerava como sua, prestou um maravilhoso depoimento gravado, durante duas horas, em que traçou com a inteligência e clareza que lhe são peculiares, um painel vivíssimo e até emocionante do processo histórico da ocupação das terra do Sertão de Manducava, ” uma área montanhosa e coberta de matas frondosas de um lado pelas planícies do vale do Sapucaí, na altura da atual cidade de Borda da Mata, em Minas Gerais, e de outro pelos campos do planalto paulista que começavam onde hoje é Campinas ao sul, ao norte encontrava-se em Itapira, Mogi-Mirim e Posse de Ressaca”. Morungaba situa-se quase no centro desse sertão, evitado pelos bandeirantes pelas dificuldades naturais do relevo. O surgimento do povoado não diferencia do modo como nasceram quase todas as cidade da região: erguia-se uma capela, um entreposto comercial e em torno iam aparecendo moradias.
A ocupação das terras desse sertão de Manducava, Manducaia ou Camanducaia deu-se em virtude da cultura de café no seu trajeto expansionista. Foram abertas muitas fazendas, extensas glebas de terra, num esforço hercúleo, afrontando toda a espécie de empecilhos e criando um tipo de vida de isolamento cruel e rusticidade acabrunhante, constituindo-se essa gente numa espécie de sociedade rural sacrificada entre a memória de uma vida europeizada cultivada na tradição oral e nos atavismos de um Portugal perdido na lembrança e na dura realidade no amanho da terra, de que participavam senhores e escravos, lado a lado. Esse primeiro momento de ocupação do solo pelos descendentes de Brito Leme, cidadão de postura preeminente em Atibaia onde era autoridade, sucedeu nos anos iniciais do século XIX. Um desses descendentes, Francisco Bueno de Aguiar, proprietário da Fazenda Sant’Ana, doou a Nossa Senhora da Conceição o terreno para se erguer uma igreja. Como era o vezo da época, desse terreno foram destacadas datas, isto é, lotes menores que eram vendidos e onde se ergueram as primeiras residências do Bairro dos Mansos. Foi com o dinheiro dessas transações que se construiu a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. O pequeno burgo passou a chamar-se Conceição de Barra Mansa, nome poético mudado, em 1919, para Murungaba, cuja forma evoluiu para Morungaba. Esse pequeno núcleo foi oficialmente elevado a distrito de paz do Município de Itatiba, em 1891.
O segundo momento decisivo na formação de Morungaba foi a chegada dos imigrantes italianos, no segundo lustro da década de 80, século XIX. Foram esses imigrantes originários da região de Vêneto, no norte da Itália, aos quais se juntaram uns poucos italianos meridionais, que moldaram, ao lado dos primitivos moradores do Bairro dos Mansos, a feição e o destino de Morungaba. Influenciaram em todos os aspectos: na forma de morar, de vestir, nos métodos da agricultura, na conformação da estrutura social, a língua, na religião, nos costumes, na alimentação. Da mescla dessas duas culturas é que se formou o povo morungabense. A descendência das duas raças ainda é preponderante em Morungaba.
Passaram-se anos de lentíssima evolução, duas graves crises econômicas se abateram sobre o país e apenas o ” modus-vivendi” de uma população acostumada a tirar da terra os proventos para a subsistência, permitiu passar mais ou menos ao largo das agruras. Os fazendeiros, entretanto, sentiram-nas na carne. Aconteceram mudanças fundamentais na estrutura social, que comportaria um estudo sociológico. Muitos dos imigrantes tornaram-se proprietários das terras onde antes eram empregados.
A história mais recente é do conhecimento da população atual. Proclamada município através de um plebiscito em que a absoluta maioria de seus habitantes votou ” sim” à pretensão de emancipar-se, principiou em 1965, uma nova fase em sua vida.
Foi a partir de sua emancipação política que a cidade ganhou impulso definitivo. Chegaram novas indústrias. Começaram a aparecer importantes obras públicas e houve definitivamente a preocupação com os problemas de infra-estrutura urbana, sempre maiores devido ao aumento da população que teve uma atividade mais diversificada. A feição urbana modificou-se modernizando-se sem perder o encanto. Somos ainda carentes de algumas coisas mas já caminhamos bastante: o futuro se abre com perspectivas das mais otimistas.
Prof. Aercio Flavio Consolin
Fonte: Morungaba