Por Cássio Starling / Filme do Dia – NewsLetter toda semana, confira clicando aqui
ISSO NÃO É UM ENTERRO, É UMA RESSURREIÇÃO
Diretor: Lemohang Jeremiah Mosese
Diretor de fotografia: Pierre de Villiers
(África do Sul/Lesoto, 2019)
O diretor de fotografia Pierre de Villiers utiliza a estética de planos fixos. Para filmar nas locações fascinantes de Lesoto, um fotógrafo não precisa fazer muito mais do que enquadrar, preparar a câmera e registrar. A sensibilidade de Villiers ainda adiciona camadas à história narrada por Mosese. que realçam a beleza natural do cenário. “Isto não é um enterro, é uma ressurreição” se passa numa vila construída sobre os ossos dos mortos e dos ancestrais dos ancestrais, um lugar marcado pelo sofrimento e pela dor. Mesmo quando Villiers capta outra perspectiva, ainda somos obrigados a reconhecer a morte – de um modo de vida, de toda uma região condenada e dos inúmeros desafortunados enterrados sob a terra sobre a qual caminham os personagens de Mosese caminham.
onde: Cinema Virtual
A LENDA DO CAVALEIRO VERDE
Diretor: David Lowery
Diretor de fotografia: Andrew Droz Palermo
(Irlanda/Canadá/EUA, 2021)
Fantasia mística medieval psicodélica talvez seja a melhor descrição das escolhas feitas pelo diretor de fotografia Andrew Droz Palermo para filmar A LENDA DO CAVALEIRO VERDE, de David Lowery. Uma releitura da lenda arturiana como apenas um diretor como Lowery poderia imaginar, A LENDA DO CAVALEIRO VERDE adiciona elementos enigmáticos ao folclore galês, ao mesmo tempo que expande a escala visual dessa mitologia. O filme é grandioso. E Palermo introduz grandezas. As paisagens variam de pradarias infinitas a florestas assustadoras, de campos de batalha cobertos de cadáveres a montanhas de todos os tamanhos. A cultura pop usa a torto e a direito o termo “épico” para se referir às bobagens mais banais, mas A LENDA DO CAVALEIRO VERDE realmente é épico, assustador, hipnotizante e estranho. Palermo consegue dar ao filme uma dimensão impressionante e projetar esta dimensão numa viagem cinematográfica única.
onde: – AppleTV – – –
PIG – A VINGANÇA
Diretor: Michael Sarnoski
Diretor de fotografia: Patrick Scola
(EUA/Reino Unidos, 2021)
Portland é uma cidade famosa por causa de coisas bizarras como o Urban Iditarod, o Naked Bike Ride, o Voodoo Donut Shop, o yarn bombing e os hipsters com mais tatuagens por centímetro quadrado de pele do que o tamanho das barbas do século 19. Portland também é conhecida pela chuva que cai dia e noite. Chuva sem fim. Patrick Scola, diretor de fotografia deste surpreendente longa de estreia de Michael Sarnoski protagonizado por Nicolas Cage, preserva a camada de nuvens pesadas pairando sobre o filme e, ainda assim, consegue manter uma paleta de cores vibrante, mesmo com pouca luz e apesar de uma perpétua névoa cinzenta dominar o mundo que ele filma. Sarnoski dirige com um olhar minimalista; Scola respeita, focando nos objetos mais interessantes do quadro – uma torta, um berço, uma vieira coberta de espuma, uma trufa – e os filma com determinação. Ele é a antítese do chef que aparece no meio da história. Scola preserva a simplicidade porque menos é mais e alcança uma perfeição emocionante a cada plano.
WHAT DO WE SEE WHEN WE LOOK AT THE SKY?
Diretor: Alexandre Koberidze
Diretor de fotografia: Faraz Fesharaki
(Geórgia, 2021)
A sinfonia da cidade mágica de Alexandre Koberidze exala um charme onírico graças à fotografia requintada de Faraz Fesharaki. Enquanto passamos um verão na cidade georgiana de Kutaisi, a visão calorosa do filme abrange todos os detalhes da vida, de um romance instável a partidas de futebol exuberantes e a vida dos cães. O olhar de Fesharaki, inspirado em Robert Bresson, captura até os mínimos detalhes com um nível de cuidado e de sentimento que desapareceu da maioria dos filmes contemporâneos.
onde: MUBI
ZOLA
Diretora: Janicza Bravo
Diretor de fotografia: Ari Wegner
(EUA, 2020)
Uma coisa tem de ser dita sobre Janicza Bravo: ela nunca escreveu uma fala impactante que fosse mais ou menos. Outra coisa tem de ser dita sobre a diretora: ela adora planos largos. Em ZOLA, segundo longa que filma com Bravo depois de LEMON (2017), o diretor de fotografia Ari Wegner expande o campo para a esquerda e para a direita, dando ao filme a sensibilidade e a estrutura visual de uma peça de teatro. Isso faz sentido no caso de Bravo – ela tem um forte histórico de teatro – e oferece a grande vantagem de afastar ZOLA do material que o originou, o homérico fio de Aziah King no Twitter em 2015 sobre uma mulher branca maluca que a convenceu a ir de Detroit a Tampa, onde todos os seus planos de se tornar uma stripper deram errado. (Deram errado porque a mulher branca, além de maluca, era uma pessoa má, manipuladora que tinha péssimas intenções.) O trabalho de Wegner distancia-se o máximo possível das redes sociais; ele adota uma estética extravagante e hiper-estilizada, inspirada em outros filmes de crime, comédias malucas de humor negro, ambientados na Flórida.
Imagem: Divulgação
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