Meio Ambiente

Um parque sonhado para o terreno do Jockey Club de São Paulo

São Paulo foi três cidades em um século, como sabiamente disse o professor Benedito Lima de Toledo em seu livro. Nessa dinâmica de ocupação sem respiro sobraram poucas áreas livres e verdes na malha urbana da metrópole. Um desses raros espaços sobreviventes é o enorme terreno do Jockey Club, na beira do finado Rio Pinheiros. Em sua época de ouro, foi um espaço muito apreciado pelos paulistanos, mas foi perdendo sua função social ao longo das décadas e quase desapareceu do cotidiano da população. Hoje, segue entre possibilidades e o alto valor que seus metros quadrados prometem ao mercado imobiliário.

Esse terreno pode ser considerado uma oportunidade histórica e única para a metrópole que não soube crescer de forma sustentável no século passado. Se não deixarmos a chance passar, se o poder público e o setor privado entenderem o potencial, podemos transformar aquele espaço em um legado eterno para a metrópole. E ainda agradar aos diferentes autores envolvidos.

Esse é o cerne de um projeto que desenvolvi por iniciativa própria, o de criar um parque na área do Jockey de maneira a resgatar o Rio Pinheiros para todos os paulistanos. O mais bacana desta proposta é a recriação de um trecho do rio original de 1930, com suas curvas, florestas de Mata Atlântica, amplas áreas abertas, grupos de palmeiras jerivás e água limpa. O modelo seguiria o estilo comprovadamente viável do Piscinão de Ramos, criado na poluída Baía da Guanabara.

O parque do Jockey seria rodeado por restaurantes, bares e pontos de lazer frequentados por banhistas, praticantes de canoagem e turistas. A via expressa da marginal se afastaria para passar por trás do parque (ou, na melhor hipótese, ser convertida em túnel). Já os terrenos que sobrassem se transformariam em um novo bairro comercial e residencial com a melhor vista da metrópole e alta recompensa financeira a empresas e proprietários, que inclusive financiam o novo parque.

Não tenho dúvidas que esse século será o da reconstrução da cidade para a sua 4° geração, cujo sucesso depende de aliar o conforto da metrópole construída com o melhor da sua natureza original.

Mais em: Estadão / Ricardo Cardim é mestre em Botânica pela USP, diretor da CardimArquitetura Paisagística e idealizador das Florestas de Bolso para o retorno da Mata Atlântica no meio urbano.

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