Homenagem

No aniversário de SÃO PAULO, artistas mostram papel dos indígenas

Intervenção dá visibilidade à violência contra os povos originários.

Por Ludmilla SouzaRepórter da Agência BrasilSão Paulo

A imagem do professor indígena Ari Uru-Eu-Wau-Wau, morto há dois anos, está estampada em 25 lambes (pôster artístico de tamanho variado que é colado em espaços públicos), espalhados em vários pontos de São Paulo, como Sacomã, Barra Funda e Cidade Tiradentes, por ocasião do aniversário da fundação da cidade de São Paulo, celebrado nesta quarta-feira (25).

O objetivo da intervenção, promovida por um grupo de dez artistas e coletivos de arte da região metropolitana, é dar visibilidade à violência contra os povos originários que foi apagada da história oficial, tanto da capital paulista, como do Brasil.

Os lambes reproduzem a imagem criada pelo artivista Mundano em uma empena (cada uma das fachadas laterais de um edifício) de 618m² na lateral de um prédio na Rua Quintino Bocaiúva, perto da Catedral da Sé.

“Pintei um guerreiro indígena olhando para a Catedral da Sé, em um território que antes de ser o que é, a partir da história contada pelos brancos colonizadores, ou seja, antes de ser o Marco Zero colonizador, era território indígena. O Ari está ali representando todos os indígenas que perderam suas vidas e seus territórios, desde 500 anos atrás e que continuam perdendo até hoje. Ari é Paulino Guajajara, Ari são os dois jovens pataxós, Ari são as 500 crianças yanomamis. E sua força de guerreiro e protetor da vida e da floresta, ecoa através da minha pintura feita de terra da cidade de São Paulo e de cinzas da floresta amazônica por toda a cidade”, descreve Mundano.

O artivista acredita que a arte vai chamar a atenção do paulistano. “Esperamos que Ari Uru-Eu-Wau-Wau toque o coração de cada um que passar pelo seu caminho e olhar nos seus olhos e que a mensagem de lutarmos juntos e soubermos sobre a história dessa cidade que ainda não sabemos, a história do genocídio indígena que aconteceu no marco zero, se entendermos agora no presente, podemos mudar o curso e garantir um futuro melhor para todo mundo”.

Ari Uru-Eu-Wau-Wau, indígena assassinado em abril de 2020, em Rondônia, foi retratado em uma releitura do quadro Bananal, de Lasar Segall. O grande mural do guerreiro Ari foi feito com terra coletada no Marco Zero e misturada a cinzas de queimadas da Amazônia coletadas por Mundano. A emblemática luta do povo Uru-Eu-Wau-Wau é o tema do filme O Território, que levou dois prêmios no Festival Sundance e concorreu a uma vaga ao Oscar.

A artivista AFolego é uma das artistas que pintaram o mural com o artista Mundano. Ela conta como é participar da intervenção.  “Eu pintei o mural, pessoalmente para mim é um misto de emoções: de tristeza por ter que fazer um memorial e uma honra em poder espalhar uma mensagem importante”, conta a artivista urbana feminista. “Sou artivista pelo direito das mulheres de existirmos livres e seguras. Minha temática é sempre alinhada a teoria feminista”.

Para o artista manauara André Hullk, a arte é reflexão. “A gente tem que refletir sobre nossos antepassados, saber a nossa história, não apagar isso, que é exatamente o que querem quando existe o preconceito”, destaca.

Amazônia na metrópole

Os lambes também incluem uma mensagem alusiva à preservação da Amazônia. Para quem quiser se engajar na luta pela defesa dos povos indígenas e da floresta, basta usar a câmera do celular para ler o QR-Code reproduzido nos lambes e que leva à campanha Amazônia de Pé: um abaixo assinado que visa criar uma lei de iniciativa popular destinando os 57 milhões de hectares de florestas públicas na Amazônia para proteção dos povos indígenas, quilombolas, pequenos produtores extrativistas e unidades de Conservação.

Conheça alguns dos artistas e coletivos participantes da ação:

André Hullk – https://www.instagram.com/andrehullk/

Claudinei Monteiro – @claudinei.monteiro 

Micha – https://www.instagram.com/artistamicha/

Carina Mello – @carina_mello 

AFolego – https://www.instagram.com/afolego/ 

Bárbara Goy – https://www.instagram.com/barbaragoy/

Ju Akina – https://www.instagram.com/julianaakina/

Negana – @negana

Carol Simó – https://www.instagram.com/carolsimo.art/

Subtu – https://www.instagram.com/subtu/?hl=pt

Iskor – https://www.instagram.com/fe.iskor/

Felipe Risada – https://www.instagram.com/felipe_risada/

Thiago Monster – https://www.instagram.com/monsterectoplasma/

Filite – https://www.instagram.com/filite_art/

Rasmoke – https://www.instagram.com/rafael_rasmok/

Pedro Frazão – @pefrazao

3visao – @3visao

BANAIS – @riskavicia

Slim Rimografia – @slimrimografia

Wera – @danielwera.7

Carol Simó – https://www.instagram.com/carolsimo.art/

Edição: Fábio Massalli

Imagens: Divulgação – Foto abertura © Rovena Rosa/Agência Brasil

Mais em: EBC Agência Brasil

Imagem: Divulgação – Lambe com a imagem de Ari Uru-Eu-Wau-Wau, indígena assassinado em abril de 2020 em Rondônia, no bairro da Liberdade. – Foto / Rovena Rosa/Agência Brasil.

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