Escultura

Escultura futurista de Umberto Boccioni é destaque no MAC

A obra mais famosa do artista italiano é celebrada em mostra que alia pesquisas de arte e ciência.

Por: Leila Kiyomura

A obra mais célebre do futurista italiano Umberto Boccioni tem a sua importância reconhecida no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Pela primeira vez, a escultura Formas Únicas da Continuidade no Espaço é apresentada com uma pesquisa multidisciplinar das curadoras Ana Magalhães, do MAC, e Rosalind McKever, do Victoria & Albert Museum, de Londres.

A exposição Boccioni: Continuidade no Espaço propicia ao público uma experiência derivada de um estudo acadêmico iniciado no MAC em 2012. O resultado é um trajeto visual que permite acompanhar a feitura e a difusão da obra de arte.

O visitante se surpreende ao observar a escultura original em gesso e também em bronze. Altiva, a obra, nessas duas versões, ocupa o centro da galeria no sétimo andar do MAC com o brio de ser um marco do movimento futurista. “Essa obra marca o ápice da tentativa do artista de dar vida à escultura, criando figuras em movimento”, atestam as curadoras no texto de apresentação da mostra.

O foco é apresentar as novas descobertas sobre a história material de Formas Únicas da Continuidade no Espaço. “O original em gesso, que hoje pertence ao acervo do MAC, é uma das 11 esculturas que o artista expôs na mostra de escultura futurista que fez em Paris, em 1913”, explica Ana Magalhães. “Com a morte prematura de Boccioni, em 1916, o destino de suas esculturas sofreu revezes, o que fez com que apenas três dos gessos que ele havia apresentado na exposição de 1913 sobrevivessem.”

Ana observa que a famosa figura abstrata, que se destaca pela nítida impressão de caminhar e se movimentar, acabou se popularizando através de uma série de tiragens em bronze realizadas, inicialmente, por encomenda do líder do movimento futurista, e amigo do artista, Filippo Tommaso Marinetti, nos anos 1930. “O fato de as tiragens em bronze terem ganhado coleções de museus no mundo inteiro, dentre os quais o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, fez com que a historiografia da arte moderna desconsiderasse a importância do gesso para Boccioni na veiculação de seu conceito de escultura futurista. Isso é o que nós estamos tentando discutir na exposição com a história material da obra.

“A Escola Politécnica, o Instituto de Física e outras instituições nacionais e internacionais colaboraram na mostra.”

A exposição destaca os aspectos históricos, estéticos e técnicos da produção de Boccioni. Eles foram analisados com a colaboração de instituições nacionais e internacionais, como o Instituto de Física e a Escola Politécnica, ambos da USP, o Instituto Superiore per la Conservazione de il Restauro, em Roma, e o Fab Lab Livre SP, que é uma rede pública de laboratórios de criatividade, aprendizado e inovação.

“O Instituto de Física da USP tem, desde 2011, uma longa colaboração com o MAC”, observa Ana. “Através de análises de imageamento, consideradas não destrutivas, é possível detectar as camadas de pigmento aplicadas sobre o gesso, observando reparos e preenchimentos feitos no gesso ao longo dos anos. Além disso, em 2016, realizamos a radiografia da obra de Boccioni, que foi fundamental para vermos sua estrutura interna, entendermos sua constituição e os instrumentos e materiais utilizados nela.”

Também a Escola Politécnica da USP colaborou com a pesquisa através do Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (Citi) do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI), coordenado pelo professor Marcelo Zuffo. “Um trabalho que foi fundamental para nos aproximar do acompanhamento da captura em 3D que a empresa Faro fez com um equipamento de alta precisão, para que pudéssemos sobrepor a malha extraída àquela do primeiro bronze feito a partir do gesso, que hoje está no Museo del Novecento, em Milão. Esse tipo de comparação foi importante para determinar a relação entre as duas obras, ou seja, o gesso como molde/modelo e o bronze com tiragem”, explica Ana.

Outra colaboração para a pesquisa da obra de Boccioni veio do Istituto Centrale per la Conservazione de il Ristauro, de Roma. “Esse trabalho foi fundamental para analisarmos as comparações das malhas de ponto, inclusive porque esse instituto compartilhou conosco a captura em 3D que ele havia feito do bronze do Museo del Novecento em 2004.”

Todo esse trabalho que alia a arte à ciência está na exposição. O público pode ver a escultura Formas Únicas da Continuidade no Espaço, em gesso e bronze, com um equipamento de alta tecnologia em 3D. “É muito interessante observar como a escultura de Boccioni tinha ficado no imaginário das pessoas como uma espécie de figura cibernética em metal. Porém, na verdade, elas não sabiam, aliás nem mesmo muitos especialistas sabem, que o original era em gesso, perfeitamente branco, e que isso nos faz repensar o que era a escultura futurista para Boccioni.

“Boccioni, ao lado de Picasso, Modigliani, Matisse e Kandinsky, é dos mais importantes artistas da primeira metade do século 20.”

Umberto Boccioni nasceu na região da Calábria em 19 de outubro de 1882 e morreu, aos 33 anos de idade, em Verona, no dia 17 de agosto de 1916. “O artista é considerado o maior expoente do futurismo italiano e seu legado ecoa em obras de alguns artistas contemporâneos, que literalmente citam  a sua obra Formas Únicas da Continuidade no Espaço ou propõem outras versões dela”, comenta Ana Magalhães. “É o caso do artista italiano Francesco Vezzoli, que em 2012 fez uma versão em bronze da escultura. Ou ainda, este ano, do brasileiro João Loureiro, que fez uma proposição na qual uma impressão 3D da obra era apresentada no contexto de sua exposição Reprodução Assistida.”

A curadora e professora do MAC faz questão de ressaltar que não se escreve nenhum manual, catálogo ou livro sobre as vanguardas modernistas sem que se fale sobre Boccioni e se reproduza suas Formas Únicas da Continuidade no Espaço. “Ao lado de Picasso, Modigliani, Matisse e Kandinsky, Boccioni é dos mais importantes artistas da primeira metade do século 20”, conclui.

A exposição Boccioni: Continuidade no Espaço, com curadoria de Ana Magalhães e Rosalind McKever, fica em cartaz até 24 de março de 2019, de terça-feira a domingo, das 10 às 21 horas, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP (Avenida Pedro Álvares Cabral, 1.301, Ibirapuera, em São Paulo). Entrada GRÁTIS. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-0254.

Imagem: Divulgação

Mais em: Jornal USP

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