Por Mário Mazzilli, diretor do Instituto CPFL www.institutocpfl.org.br
O surgimento do programa cultural da CPFL Energia, hoje sob responsabilidade do Instituto CPFL, coincide com o surgimento de algumas das principais plataformas de comunicação do mundo atual. Criado em 2003, o espaço cultural é praticamente contemporâneo de canais como Facebook (lançado em 2004) e o YouTube (2005) e testemunhou a popularização do smartphone e outras tecnologias.
Desde então pudemos testemunhar o surgimento de novos desafios aos sistemas até então consagrados de produção e difusão do conhecimento. Com as redes, os gargalos ao acesso à informação foram aos poucos sendo superados, dando espaço a outras questões, como a necessidade de filtrar, contextualizar, desconstruir, reconfigurar significados e significantes para que o conhecimento não fosse dissolvido em meio à avalanche de notícias. Isso requer um exercício de curadoria e ceticismo constante. Não por acaso, “pós-verdade” foi considerada a palavra do ano em 2016 pela Universidade de Oxford. Refere-se a um período em que fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e crenças pessoais. Entre gifs, memes, frases resumidas a 140 caracteres, as redes, que deveriam expandir, muitas vezes funcionam como bolhas de algoritmos que mais isolam do que iluminam.
Em meio a esse tsunami tecnológico e de informação, o Instituto CPFL se consagrou como uma espécie de ilha de segurança desse novo mundo que emergiu, justamente com a proposta de tirar o conhecimento das ilhas da academia e democratizar o acesso a um público cada vez maior. Pudemos, assim, ajudar a ampliar as visões, as reflexões e as percepções deste público em relação ao mundo em que vivemos por meio do já consagrado Café Filosófico CPFL, sessões de cinema, teatro, concertos e exposições de artes visuais.
Não se trata de oferecer respostas, mas de aprimorar o caminho das perguntas. É o que chamamos de energia do conhecimento, trabalhada em encontros abertos e gratuitos que têm na cultura a dimensão de um direito humano fundamental. O encontro com o outro, com visões diferentes, com formas diversas de interpretar o mundo daquelas que já conhecemos é o que move o conhecimento. E o conhecimento é a ferramenta capaz de interpretar e mudar, se não o mundo, a forma de estar no mundo.
Ao longo de sua trajetória, o Instituto CPFL passou a integrar outras ações além das atividades culturais. Em um período marcado pelo isolamento e a desinformação, que levaram à radicalização e à perda das noções de realidade, incorporamos em nossas atividades a necessidade de incentivar os conselhos municipais da criança e do adolescente e também dos idosos a promoverem um verdadeiro diagnóstico para definir quais as prioridades para minimizar o grau de vulnerabilidade destes grupos sociais.
Novamente, é através do conhecimento proporcionado pelo diagnóstico da realidade local que podemos superar os apelos à emoção e crenças pessoais para promover atividades concretas de proteção e bem-estar de crianças, adolescentes e idosos. Para isso é preciso conhecer e combater questões como violências, abandono, drogadição de nossas comunidades.
É através delas que podemos ajudar a transformar o mundo, fazendo dele um espaço de convívio, de encontro, de possibilidades e de inspiração – e não de medo, ignorância e acovardamento de cidades marcadas pela exclusão dos muros, das grades, da vigilância excessiva, dos controles de entradas e saída, do enclausuramento.
Da mesma forma, as atividades esportivas promovidas pelo Instituto CPFL, como caminhadas, passeios ciclísticos e apoio a projetos como a Orcampi, um verdadeiro celeiro para jovens talentos, tem ajudado uma multidão a redescobrir, através do esporte, uma cidade pela qual já não corria, não caminhava, não pedalava.
Trata-se não apenas de promover o conhecimento sobre o equilíbrio e os limites do próprio corpo, mas de promover o encontro do cidadão com sua própria cidade e compreendê-la não como um espaço de risco, de perda ou subtração, mas como um reforço dos laços comunitários, com suas diferenças e possibilidades de convívio.
Estar na cidade, e não apenas viver nela, exige um reaprendizado contínuo do olhar sobre espaço urbano, o que requer também uma outra visão de meio ambiente e sustentabilidade. O desafio é saber como podemos tirar desse espaço uma forma de produção, consumo e convívio que não seja equivalente a destruição, distanciamento, exclusão.
A responsabilidade com este mundo que pede conhecimento, cuidado e proteção é uma premissa do Instituto CPFL. Seja por sua programação cultural, seja pelas ações sociais ou pelas atividades esportivas, seu objetivo é quebrar barreiras, promover a aproximação e o reencontro através da reeducação do olhar deste público, hoje uma verdadeira multidão, com sua própria realidade. Este conhecimento é a energia vital para a transformação e a superação dos desafios impostos neste mundo tantas veze confuso, tantas vezes segregado, tantas vezes injusto.
Saiba mais na edição de 1ºSemestre/2017 da Revista RMC.