Ghosting é um termo que surgiu com o advento das redes sociais, derivado do inglês e do substantivo “ghost” (fantasma). Significa a ação ou o comportamento de sumir, desaparecer, cortando qualquer contato sem dar nenhuma explicação ou satisfação para quem sofre a ação de ser abandonado (a).
Esse comportamento popularizou-se com os apps de relacionamento. Uma pessoa dava match com outra e, depois de algumas conversas ou muitas vezes nem isso, acabava por sumir ou “dar um ghosting”. Isso porque os apps de relacionamento passaram a ofertar um “cardápio de pessoas”. Basta deslizar o dedo para a direita e pronto, mais uma possibilidade de match. Uma pessoa pode falar com 10, 20, 30 pessoas ao mesmo tempo, sem que haja o contato físico ou a possibilidade de um vínculo mais profundo. Esse meio de comunicação e esse jeito de se relacionar passaram a tornar as pessoas altamente substituíveis.
Com a pandemia, não apenas os apps de relacionamento, mas as redes sociais como um todo, viram esse comportamento se popularizar, trazendo um novo jeito de se comunicar.
A psicóloga especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, Anne Crunfli diz que “Não é raro no consultório, pacientes reclamarem que seus relacionamentos terminaram por mensagens no WhatsApp. Mesmo que não seja um sumiço ou um ghosting, pois houve uma mensagem enviada oficializando o término, é um comportamento que tem por trás o mesmo objetivo: fugir de um conflito, de um confronto, ou seja, evitar uma conversa sincera e possivelmente dolorosa”.
As redes sociais permitiram que as pessoas se escondessem no mundo virtual e passaram a não se sentirem mais obrigadas a ter um encontro presencial ou mesmo fazer um telefonema para romper com algo. A grande questão é que, geralmente, quem sofre o ghosting está mais envolvido emocionalmente, o que ocasiona a construção de vínculo. Por isso, experienciar um “ghosting” pode trazer um alto custo psicológico para quem sofre o abandono.
Sintomas que pessoas que sofrem Ghosting podem experienciar
Confusão – Demora para entender que houve o rompimento, geralmente dá desculpas pelo comportamento do outro. “Sumiu porque está muito preocupado com o trabalho”, “sumiu porque está com muitos problemas”. Não entende o comportamento do outro e, portanto, não aceita e oferece esse discurso de justificativas.
Raiva – quando entende que a pessoa realmente “sumiu” ou deu um “ghosting”, fica com muita raiva, sente que foi passado (a) para trás ou que foi feito de bobo (a). Caso essa raiva não seja bem elaborada, pode gerar pensamentos de vingança e trazer obsessão para com a pessoa que fez o ghosting.
Fechamento emocional – por medo de passar pela experiência negativa de abandono e desrespeito, acaba por evitar relacionamentos futuros.
Culpa – acredita que fez algo “imperdoável”, por isso foi abandonado (a), acaba por assumir 100% da responsabilidade pelo término e fica ruminando e remoendo o que pode ter levado a outra pessoa a abandonar tão abruptamente a relação, sem qualquer satisfação.
O que fazer para se proteger de um possível Ghosting?
Em primeiro lugar, é importante entender qual o nível de profundidade que se construiu na relação e qual a intensidade do vínculo constituído. Isso porque, mesmo não sendo adequado, o ghosting é um comportamento que se popularizou nas redes sociais. Um app de relacionamento traz uma “oferta” muito grande de pessoas, e a pessoa que está falando com você provavelmente está falando com muitas outras e, em um determinado momento, pode se interessar mais por uma do que por outra e dar um sumiço geral, sem dar satisfação para ninguém. Isso pode ser considerado um comportamento “normal” ou aceitável na comunicação, na cultura ou na linguagem do meio digital.
“Agora, se o relacionamento já saiu do âmbito virtual, houve encontros reais, físicos, pessoais, o vínculo já está estabelecido e, mesmo assim, ocorre o ghosting, é necessário entender que a pessoa que o praticou com certeza possui uma grande desregulação emocional, uma imaturidade emocional e uma irresponsabilidade emocional para com o sentimento do outro. Com certeza, não foi desenvolvida a empatia e a autorresponsabilidade emocional de maneira adequada. Seria necessário investigar psicologicamente essa pessoa para entender esse emaranhamento emocional e identificar se há alguma psicopatologia associada a tal comportamento. Mas, como cada caso é um caso e cada pessoa tem suas limitações e conflitos internos, vamos focar no que você pode fazer se tiver sofrido um ghosting”, afirma a psicóloga Anne.
Entenda que você não está sozinho (a), busque apoio emocional em sua rede de apoio, família, amigos e busque profissionais da área da saúde mental como psicólogos e psiquiatras, que possam trazer um olhar mais técnico para o seu contexto relacional.
Bloqueie o ghoster, pois no meio de tanta confusão emocional, você pode se emaranhar em um processo de autoculpabilização e cair na armadilha de procurar a pessoa novamente. Busque aceitar e respeitar a decisão do outro.
Dê-se um tempo para amenizar a dor emocional e volte a se relacionar. Uma grande armadilha e muito comum é fechar-se emocionalmente para outros possíveis relacionamentos mais saudáveis e funcionais, com medo de que possa experienciar um novo ghosting e toda dor a ele associada. É importante lembrar que a questão disfuncional está no outro e não em você.
Não adote você mesmo o ghosting como uma estratégia para terminar relacionamentos. Muitas vezes, quando feridos, para fugir da dor, embarcamos na primeira possibilidade de relacionamento que é encontrada e depois nos arrependemos. Tenha responsabilidade emocional e empatia e faça com o outro aquilo que gostaria que fizessem com você. Ou seja, aja com respeito e empatia, marque um encontro e tenha uma conversa assertiva, educada e finalize a relação.
Uma dica para quem quer se “blindar” ao ghosting é ter vários pilares bem desenvolvidos na vida: amigos, família, trabalho, lazer, estudo, e tantos outros quanto for possível pensar e construir. Isso porque, quanto mais pilares ou pontos de apoio tiver, melhor você lidará com a situação caso um desses pilares desmorone. Por exemplo, se você tem amigos, família, pessoas queridas que façam você se sentir amado (a), caso o pilar do relacionamento conjugal fique abalado, você sempre se sentirá acolhido, protegido, envolto em afeto. Ou, caso tenha um trabalho que te realize, também servirá como ponto de apoio para aliviar e ajudar no caso de um término. Agora, caso seu único apoio ou pilar emocional esteja completamente associado a uma única pessoa com a qual você mantém um relacionamento amoroso, caso esse relacionamento acabe, seja da maneira que for, seja por ghosting ou mesmo com a pessoa tendo respeito, mas decidida a partir, você irá se desestruturar emocionalmente. Portanto, é fundamental e muito importante que tenha vários pilares de apoio emocional.
Imagem: Divulgação – Foto Cherry Laithang na Unsplash
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