Fundado há quase 170 anos, maior cemitério da capital paulista é palco foi palco do enterro das mais variadas personalidades do Brasil.
Localizado no coração de São Paulo, o Cemitério da Consolação é o mais antigo da cidade, inaugurado em 1858. Além de abrigar pessoas falecidas, o cemitério surgiu para assegurar a salubridade, pois a tradição da época era enterrar corpos em igrejas.
Também é conhecido por sua arquitetura, espaço verde e pelas mais de trezentas esculturas que decoram jazigos. E, claro, pelos famosos que foram sepultados lá. O lugar reúne diversas personalidades que deixaram a sua marca na história do Brasil.
- Monteiro Lobato
Sem dúvida, Monteiro Lobato é uma das figuras mais conhecidas do Cemitério da Consolação. O escritor nasceu em 18 de abril de 1882, na cidade de Taubaté-SP.
Em 1900, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo. Porém, ele gostaria de ter iniciado os estudos em Belas Artes. Oito anos depois, já formado, Monteiro Lobato publicou Urupês, sua primeira coletânea de contos, retratando o caipira Jeca Tatu.
O êxito dos contos deu ânimo ao escritor criar a Editora Monteiro Lobato, com o objetivo de publicar seus livros infantis. “O Saci”, “Fábulas de Narizinho” e “Marquês de Rabicó” foram os primeiros a serem publicados.
E como você deve saber, essas histórias também fizeram sucesso, motivando o escritor a criar Emília, Dona Benta, Tia Anastácia, Cuca, Tio Barnabé e Visconde de Sabugosa. Assim surgiu o Sítio do Pica-Pau Amarelo, sua obra mais famosa, que se tornou seriado em 1960.
Porém, Monteiro Lobato não estava vivo quando o Sítio ganhou as telinhas. Sua morte aconteceu 12 anos antes, em 1948. No dia do enterro, cerca de 200 mil pessoas foram ao Cemitério da Consolação para dar o último adeus a um dos principais nomes da literatura brasileira.
- Mário de Andrade
A lista dos famosos que estão enterrados na Consolação segue com Mário de Andrade, mais um escritor. Nasceu em 1893, na capital paulista, e foi um dos fundadores do modernismo no Brasil.
Algumas pessoas o consideram como o precursor da poesia moderna, em virtude da publicação de Pauliceia Desvairada, uma coletânea de poemas. Ele também é conhecido por seus esforços para a realização da Semana de Arte Moderna de 1922, que marcou a ruptura com o conservadorismo.
Porém, a obra-prima de Mário de Andrade se chama Macunaíma, uma mistura de romance, humor e ficção. O livro foi publicado em 1928, 17 anos antes de sua morte causada por um ataque cardíaco.
Mário partiu, mas sem antes fazer um pedido: “Quando eu morrer quero ficar, não contem aos meus inimigos, sepultado em minha cidade”. O desejo foi atendido, seu sepultamento ocorreu no Cemitério da Consolação.
- Oswald de Andrade
Ao contrário do que alguns imaginam, Oswald e Mário não possuem qualquer tipo de parentesco. Contemporâneos, os dois não se entendiam muito bem, principalmente durante a organização da Semana de Arte Moderna.
Por outro lado, o escritor e dramaturgo brasileiro se dava bem com a pintora Tarsila do Amaral. A afinidade era tanta que os dois se casaram e, juntos, fundaram o “Movimento Antropófago”, com o intuito de exaltar a cultura brasileira.
Além de polêmico e irônico, Oswald também ficou conhecido por valorizar as nossas origens, como fez no Manifesto Pau-Brasil e nos poemas “Bucólica” e “Pronominais”. Em meio a tudo isso, rompeu o relacionamento com Tarsila e engatou um romance com Patrícia “Pagu” Galvão, companheira que o acompanhou até o fim da vida.
Vítima de um infarto, Oswald de Andrade faleceu no dia 22 de outubro de 1954, aos 64 anos. Seu corpo foi sepultado no Cemitério da Consolação, junto ao de outros familiares.
- Tarsila do Amaral
Assim como seu marido, Tarsila também está enterrada na Consolação. No entanto, a artista plástica nasceu longe dali, a cerca de 136 km, em Capivari-SP. Com a ajuda de sua família embarcou ainda jovem para morar na Espanha. Depois viveu na França, onde estudou na Academia Julian.
O período no Velho Continente contribuiu para a formação de Tarsila, que seguiu pelos caminhos do modernismo. Quando voltou ao Brasil, participou da Semana de 22, época em que conheceu seu segundo marido: Oswald de Andrade.
Em toda a sua carreira, Tarsila pintou mais de 270 obras, sendo Abaporu, Operários, Antropofagia, A negra, Réplica do Sagrado Coração de Jesus e Segunda Classe as mais notórias. No dia 17 de janeiro de 1973, Tarsila do Amaral morreu por complicações pós-operatórias. O sepultamento se deu no mesmo cemitério de seu esposo.
- Conde Francisco Matarazzo
Natural de Castellabate, na província de Salerno, Itália, Francisco Matarazzo nasceu no dia 9 de março de 1854. Decidiu atravessar o Oceano Atlântico para desembarcar no Brasil, buscando melhores condições de vida.
Com o dinheiro que trouxe da Terra da Bota, Matarazzo abriu um armazém na cidade de Sorocaba-SP. Graças ao sucesso no interior paulista, decidiu desbravar a capital, dando início à construção de seu império.
Importou trigo e farinha dos Estados Unidos, produziu banha e farinha no Brasil, construiu uma metalúrgica e uma tecelagem de algodão. Tornou-se um empresário importante, chegando a abrir fábricas no Brasil, Nova Iorque e Buenos Aires.
Em 1914, quando Matarazzo ofereceu ajuda no abastecimento de suprimentos para França e Itália, logo no começo da Primeira Guerra Mundial, o rei Vittorio Emanuelle II deu o título de conde ao empresário, como uma forma de agradecimento.
Quando se fala na família Matarazzo, muitos se lembram dos imóveis. O mais famoso era a mansão, que ficava em um dos melhores endereços de São Paulo: a Avenida Paulista. O conde viveu por lá até 1937, ano de seu falecimento. Morreu como o homem mais rico do Brasil e o quinto de todo o mundo, possuindo um patrimônio de cerca de 20 bilhões de dólares.
- Washington Luís
O ex-presidente Washington Luís também é uma das ilustres personalidades da lista. Afinal, ele foi presidente do Brasil. O seu nascimento aconteceu em 26 de outubro de 1869, em Macaé-RJ. No início de sua carreira política, chegou a ocupar os cargos de vereador e prefeito de Batatais-SP.
Depois foi nomeado secretário estadual de Justiça e Segurança Pública. O bom desempenho no cargo o fez concorrer às eleições para prefeito de São Paulo, que terminou em triunfo para Washington, que comandou a capital entre 1914 e 1919.
Com toda força nos bastidores da política paulista, ganhou a oportunidade de disputar as eleições para presidente do país. E Washington Luís levou a melhor novamente, dessa vez diante do gaúcho Assis Brasil, derrotado no pleito.
O carioca dirigiu a nação entre 15 de novembro de 1926 e 24 de outubro de 1930, no fim da República Velha. Seu governo é lembrado pela política cafeeira, construção de estradas e reforma financeira. Porém, ele não terminou o mandato, pois foi exilado 21 dias antes do fim.
Regressou ao país apenas em 1947, com a queda de Getúlio Vargas. 10 anos depois, faleceu na capital paulista, sendo enterrado na Consolação. O sepultamento foi repleto de homenagens, com belas coroas de flores em São Paulo, oferecidas por amigos e familiares do ex-presidente.
- Marquesa de Santos
Amplamente conhecida pelo título de Marquesa de Santos, Domitila de Castro Canto e Melo nasceu em 1797, na capital paulista. Sua vida foi marcada pelo longo e polêmico romance com Dom Pedro I. Na época, o imperador era casado com a Imperatriz Leopoldina.
A relação de sete anos rendeu cinco filhos ilegítimos, além de títulos, status e riquezas para Domitila. Em contrapartida, Dom Pedro I perdeu sua credibilidade aos poucos, quase colocou tudo a perder com a morte prematura de sua esposa. Conseguiu recuperar a confiança ao se juntar com Amélia de Leuchtenburg e ao se afastar da marquesa.
Sem a companhia do português, Domitila decidiu morar em São Paulo, onde viveu até sua morte, em 1867, aos 69 anos de idade. A morte foi causada por enterocolite, uma inflamação na superfície interna do intestino.
Menções honrosas
O Cemitério da Consolação abriga uma série de personalidades que deixaram a sua marca na história brasileira. A lista ficaria gigantesca se todos fossem citados. Mesmo assim, não podemos esquecer de outros nomes. A seguir, veja mais famosos que estão enterrados na Consolação.
- Ramos de Azevedo (arquiteto);
- Líbero Badaró (jornalista);
- Emílio Ribas (criador do Instituto Butantan);
- Maria Esther Bueno (tenista);
- Campos Sales (presidente da República);
- Paulo Machado de Carvalho (dirigente esportivo);
- Nicette Bruno (atriz);
- Paulo Goulart (ator).
O cemitério da Consolação é um convite a céu aberto a uma viagem pela história do nosso país. Suas lápides e jazigos nos fazem lembrar da potência dos brasileiros, com personalidades que fizeram muito pela arte, cultura, jornalismo, medicina, arquitetura, política e em tantas outras. Colher o legado do trabalho dessas pessoas é o mínimo que podemos fazer em gratidão a tudo!
Imagem: Divulgação
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