Arte

História viva com Rembrandt ao lado de Frans Hals

Separados pelos séculos, mas próximos na mostra.

Por: Nina Siegal, The New York Times – via ESTADÃO

HAARLEM, HOLANDA – Frans Hals, um retratista da Idade do Ouro da arte flamenga, povoada por ricos comerciantes e alegres vagabundos, foi um pintor popular e bem-sucedido em vida, mas saiu de moda antes de morrer. Suas pinceladas livres e audaciosas eram demasiado ásperas para o século 18. Mas os impressionistas o redescobriram no século 19, e ressuscitaram Hals como um mestre moderno.

Hoje, Hals está ao lado dos seus compatriotas Rembrandt e Vermeer no panteão da história da arte, mas Ann Demeester, diretora do Museu Frans Hals em Haarlem, prefere vê-lo como uma figura “transhistórica”, cuja influência salta através do tempo e se aproxima da arte contemporânea.

É por isso que ela pendurou as principais obras de Hals da coleção permanente do museu, e de outros pintores da Era de Ouro, ao lado de artista vivos como Nina Katchadourian, Shezad Dawood e Anton Henning para o “Rendezvous com Frans Hals”, a mostra que irá até o final de setembro. Ela espera demonstrar que os artistas dos nossos dias ainda se inspiram no legado de Hals de 350 anos atrás.

“Transhistórico é um termo hoje da moda nos círculos curatoriais, enquanto os museus buscam novas maneiras de despertar o interesse na arte mais antiga. A mescla de antigo e novo atraiu colecionadores nas feiras de arte, e as casas de leilões estão fazendo isto também: no ano passado, a casa de leilões Christie’s se desfez da obra “Salvator Mundi”, de Leonardo da Vinci, por US$ 450 milhões em uma venda de arte contemporânea.

“O que ela tenta fazer é afirmar que a história vive”, observou Sheena Wagstaff, do Metropolitan Museum of Art de Nova York, referindo-se à tendência transhistórica.

“Com esta mescla de arte contemporânea e história, podemos revelar alguns dos enigmas nos centros da grande arte”, afirmou Sheena Wagstaff, que supervisiona o Met Breur, o ramo de arte moderna e contemporânea do museu.

A mostra “Like Life; Sculpture, Color and the Body (1300-Now)”, até 22 de julho, lança um olhar que abandona a cronologia sobre 700 anos de esculturas do corpo humano.

Incluindo não apenas a Grande Arte, mas também imagens e modelos anatômicos, a mostra abre com uma escultura hiperrealista de Duane Hanson de 1984, salta de uma escultura de Donatello do século 15 para uma obra da Renascença espanhola de El Greco, e justapõe um moderno androide a uma imagem de Jeremy Bentham, do século 19, feita com os ossos do filósofo britânico.

“A ideia desta mostra é abri-la e expandir o cânone, com obras que possam ser vistas de uma maneira mais populista”, afirmou Sheena.

James Bradburne, diretor da Galeria Brera de Milão, disse que a tendência transhistórica foi apenas um termo novo para definir o que os curadores sempre fizeram: “Tentar levar as pessoas de volta ao momento em que a arte era contemporânea”.

“Nós somos sempre obrigados a voltar a expor a arte que temos em nossas coleções de uma maneira contemporânea” ele disse, “assim como o ator, quando leva Shakespeare ao palco, precisa reapresentá-lo para um público contemporâneo, tanto nas vestes da máfia quanto nas de uma drag”.

O Kunsthistorische Museum de Viena, cuja coleção permanente apresenta a arte do antigo Egito até 1800, tomou emprestadas 22 obras de arte contemporânea para a exposição “The Shape of Time”, que vai até 8 de julho. Um nu que se cobre parcialmente, de Peter Rubens, 1936-38, por exemplo, é apresentado ao lado de um retrato com um nu frontal completo do início dos anos 70, de Maria Lassnig.

“Gostaria de pensar que nós estamos desenredando todas as ideias e preocupações, sonhos e pesadelos enterrados em todas as obras histórias que temos”, afirmou Jasper Sharp, curador do programa de arte moderna e contemporânea do museu.

Entretanto, algumas escolhas mostraram-se arriscadas. Os amantes da arte responderam no Instagram à justaposição do museu de um retrato de Rembrandt ao lado de uma pintura de um campo florido de Mark Tothko. “A metade deles estava dizendo: ‘Isto é absolutamente absurdo’, ou ‘Rembrandt deve estar se revirando no túmulo’”, disse Sharp. “Algumas das conexões se estabelecem instantaneamente; outras merecem um olhar mais demorado”.

Imagem: Divulgação – Exposição ‘Rendezvous with Frans Hals’, na Holanda Foto: Frans Hals Museum.

Mais em: Estadão Internacional

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