Geoglifos na Amazônia destruídos para dar lugar a pasto pelo pecuarista Assuero Doca Veronez.
Como todo segmento da sociedade, ou neste caso da economia, o ruralista espírito de porco Assuero Doca Veronez, presidente da Federação da Agricultura e Agropecuária do Estado do Acre (FAEAC), acaba de ser denunciado por mais um crime: a destruição de geoglifos na Amazônia, no sítio arqueológico da fazenda Crixá, no Acre.
“A destruição foi denunciada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural e ao Ministério Público Federal pelo paleontólogo Alceu Ranzi, que trabalha na região há mais de quatro décadas.”
Geoglifos na Amazônia: entenda
A National Geographic explica: “Pesquisadores acreditam que as valas – com dez metros de largura e um de profundidade – foram moldadas por povos indígenas munidos de instrumentos de madeira. Elas formam várias figuras quadrangulares e circulares. Incluindo um círculo com 100 metros de diâmetro e um retângulo de 100 por 150 metros.”
“Acredita-se que as estruturas foram construídas como espaços de sociabilidade a partir do início da Era Cristã até o século 16 ou 17. São possíveis locais de encontros e rituais erguidos quando a região ainda era uma savana, antes do surgimento da floresta que conhecemos.”
A icônica revista explica que o primeiro geoglifo do Acre foi descoberto em 1977. Desde então são estudados. Os tamanhos variam entre 50 e 300 metros de diâmetro. E ‘são prova de que os indígenas dominavam precisão geométrica e consistência de medidas’, segundo pesquisadores. E por que são tão importantes?
Bem, além de nos ensinar algo que não sabemos sobre nossos antepassados que viveram há cerca de 2 mil anos, a ciência tem outros interesses.
Segundo o paleontólogo Alceu Ranzi, “os geoglifos são de suma importância não só para a comunidade científica, mas também para a sociedade em geral. Se os geoglifos foram construídos quando esse ambiente não era de floresta, mas sim de savana (como se supõe), temos muito a aprender sobre os processos de encolhimento e expansão da floresta durante os últimos milhares de anos.”
O pecuarista Assuero Doca Veronez
De acordo com o site O ECO, “o nome de Assuero acumula multas no Ibama por desmatamentos irregulares na Amazônia e no Cerrado”. O site entrou em contato com o espírito de porco. Mais que depressa, Assuero jogou a culpa no gerente da fazenda. “Foi um erro do meu gerente que achou que era buraco demais para operar com as máquinas que a gente tem hoje, que são máquinas grandes.”
O Eco pegou o pecuarista no pulo: “Através de imagens de satélite obtidas pela reportagem em parceria com MapBiomas é possível confirmar a danificação do sítio já em julho de 2019.”
Se ele de fato estivesse preocupado, teria avisado os órgãos competentes. Mas não o fez. O ECO: “O Iphan só foi notificado sobre o dano ao sítio arqueológico com a denúncia feita em julho deste ano.”
E prossegue o site: No Laudo de Vistoria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), feito no dia 27/07, a fiscal Antonia Barbosa descreve que é possível observar o impacto do plantio de milho, “sendo possível, também, notar sinais de colheita recente com uso de maquinário”.
Preso por exploração sexual
Assuero não é só um ruralista da pior cepa. Foi acusado de envolvimento em exploração comercial de menores, segundo pesquisa do ECO. Quando a denúncia veio à tona, foi afastado da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil.
Assuero foi condenado em primeira instância. Ele é um predador nato, não só de biomas e monumentos históricos, mas também de menores.
Por suas posições em associações de classe, o agronegócio (e suas associações) deve uma satisfação ao público até porque ele é um dos que desmata mesmo. Segundo a pesquisa do site, “já foi autuado ao menos 4 vezes por infrações relativas a desmatamentos e queimadas irregulares.”
Apesar de seu nome constar como um dos predadores da floresta, o predador de menores “disse não se lembrar das autuações, que deveriam ser “muito antigas”.
No entanto, O ECO informa que “conforme as informações do Ibama, foram 969,52 hectares desmatados de Cerrado sem autorização e uma multa de mais de 90 mil reais.”
E agora?
A Fazenda Crixá de Assuero, está inscrita no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos desde 2008, informa o O ECO, o que demonstra que ele sabia de que se tratava.
O Iphan embargou a área, e encaminhou denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) do Acre “que já instaurou inquérito civil público e requisitou à Polícia Federal a instauração de inquérito policial para apurar os prejuízos causados ao sítio arqueológico e buscar a responsabilização civil e criminal.”
Resta à banda correta do agronegócio se pronunciar. Não é possível que seus pares não saibam dos escândalos protagonizados por um de seus líderes. É o mínimo que devem à sociedade num momento de tanta polarização em razão do estrago de Bolsonaro et caterva não só à floresta, mas à economia, e à imagem do Brasil e do agronegócio no exterior.
O Mar Sem Fim vai cobrar.
Imagens: Divulgação – Foto abertura National Geographic. Geoglifo no sítio arqueológico Água Fria, em Porto Acre (AC).
Mais em: Mar Sem Fim
Imagem: Divulgação – Assuero Doca Veronez, predador de florestas e de menores (sexualmente). Imagem,Marcio Isensee e Sá
Imagem: Divulgação – Geoglifo no sítio arqueológico José Maísta, em Senador Guiomard (AC). Imagem, National Geographic.
Imagem: Divulgação – A obra do predador: aqui deveria esta o geoglifo, de acordo com o Iphan.
Imagem: Divulgação – A prova, imagem do Iphan, publica no ECO, mostra o antes e o depois.